domingo, 28 de novembro de 2010

PORQUÊ MOTRICIDADE HUMANA...

Profa. Marta Genú S. Aragão   
Em meio a toda a discussão que permeia a Educação Física, nas duas últimas décadas pelo menos, em busca de uma identidade, de uma definição entre prática pedagógica ou ciência, os estudos avançam entre grupos de profissionais que, a partir de sua formação e  experiência adotam concepções que vão desde a área da Saúde, com enfoque ora voltado para a Fisiologia do Esforço ora voltado para a Qualidade de Vida no seu sentido mais zen, até o conhecimento transdisciplinar como norteador do entendimento do homem, e que tem como suporte teórico a Filosofia, a Antropologia, a Psicologia e a Biologia.
Admito a existência de um ramo pedagógico das práticas corporais que denomino de Educação Física,  mas reconheço, e necessito, de uma epistemologia que explicite esse ramo pedagógico e que em minha compreensão atual é, e tenho adotado,  a Motricidade Humana. Por reunir elementos epistêmicos de áreas do conhecimento humano, que têm ao longo dos anos explicado a natureza humana e a história das sociedades, como a Antropologia e demais áreas já citadas anteriormente.
Para Feitosa (1993) a Motricidade Humana emerge superando a confusão e indefinição da Educação Física e práticas corporais, inaugurando uma nova era fundada em autores clássicos da Filosofia, Sociologia, Medicina entre outras como Thomas Kuhn, Paul Feyerabend, Edgar Morin. Quando um postulado científico já não explica a sociedade, não contempla os questionamentos e indagações é necessário recorrer a outros conhecimentos, construir novos estatutos que ajudem o homem a compreender o mundo e a compreender-se. Estamos caminhando para a autonomia da Motricidade Humana.
Quando digo que admito essa construção epistemológica, da Motricidade Humana, para compreender o homem em todas as suas dimensões, admito que esse novo entendimento está para além do ramo pedagógico das práticas corporais, da ergonomia, do esporte de alto rendimento, do movimento humano. Mas compreende isso tudo. O que está se consolidando como Motricidade Humana é uma nova concepção de homem-mundo, que está no âmbito da Educação, da Saúde, do Saneamento, da Engenharia, do Direito, da Ética, aonde quer que o homem esteja.
 Não só a Educação Física ou o Esporte necessitam de um novo olhar, mas a própria vida que o homem leva, a maneira como os indivíduos têm lidado com as coisas no seu dia a dia. Levantar cedo e mal se alimentar, tanto de manhã como no restante do dia; desenvolver muitas tarefas no trabalho, em casa, no grupo de amigos; lidar com o salário no sentido de atender todas as suas necessidades (as básicas e as induzidas pela sociedade capitalista); enfim, controlar o nível de stress provocado pela vida moderna.
A Motricidade Humana concebe  o homem em todas as suas dimensões e na sua singularidade, e tem como princípio o transcender. O que está embutido na nomenclatura é o movimento humano histórico, cultural, que através da consciência corporal e do movimento intencional e não alienado, constrói a análise, a crítica, a cidadania.
 
As manifestações corpóreas ocorrem em qualquer meio em que o homem esteja inserido. Ás vezes de forma inconsciente, reprimida, outras condicionada, domesticada, poucas vezes intencional. O que é perceptível é que tais manifestações são expressões de vida, e de vida humana.
A corporeidade é expressa no conjunto dessas manifestações corpóreas. Corporeidade e motricidade são conceitos aparentemente muito teóricos, do mundo das idéias, e ao mesmo tempo, evidentemente práticos. Viver a corporeidade é caminhar para ir ao trabalho ou ao teatro. É namorar ou participar de movimentos políticos. É deslocar-se, através do movimento, no tempo e no espaço com uma intenção. É viver a própria história em busca de algo mais daquilo que se é.  
Buscar a plenitude da vida não é o sonho utópico só da Educação Física ou do Esporte, mas do médico e seu paciente, do trabalhador da construção civil, do cibernauta acometido de LER ou DOR. Para Santin (1992) é a partir da corporeidade que a humanização corporal deve ter como prioridade  a garantia da plenitude da vida, sem enfatizar os aspectos bio- psíquicos nem os cognitivos em detrimento dos orgânicos ou vice-versa.
É ter o movimento humano consciente (Kolyniak Filho, 1995). Entendendo-se como movimento humano consciente aquele que é construído historicamente nas relações sociais do homem.
Segundo Assmann (1995: 101) corporeidade e motricidade são linguagens de uma só fala porque “a motricidade é o vetor da identidade corporal”, corpo e movimento humano são muito mais que ato mecânico de deslocamento no espaço, um está para o outro através da história revelada na análise dos movimentos que o homem realiza através do tempo. Em Le Boulch (1987: 69) já se compreende que a  “expressão corporal permite ainda prosperar no abandono do verbalismo e reconduz a expressão ao nível do corpo vivido”. 
A partir dos pressupostos acima, do corpo vivido, não é possível mais pensar que corporeidade e motricidade são teorias desprovidas de qualquer prática, do cotidiano do homem. 
A Motricidade Humana, pressupõe o movimento que é neuro-cibernético mas também subjetivo e consciente.  
Fonte: http://www.ccsa.ufrn.br/gepem/porquemotricidade.htm

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